O crescente valor assumido pelo português brasileiro no mundo e o fortalecimento de políticas linguísticas para sua promoção e expansão têm contribuído para o reconhecimento da importância estratégica da área de Português como Língua Estrangeira/Língua Adicional/Língua Segunda, tanto no Brasil como no exterior. Em tempos de globalização e superdiversidade, em que fluxos migratórios se intensificam e a pluralidade linguística e cultural torna-se cada vez mais visível e complexa, os contextos ligados ao ensino-aprendizagem dessa língua também se multiplicam e se complexificam. São, portanto, igualmente profusas as questões que emergem nesse campo e que demandam estudos para sua melhor compreensão.
Nesse horizonte, a proposta desta coletânea foi articular temas que representam demandas da área e promover debates sob um enfoque dialogado e diverso. Para tanto, reunimos aqui um rico conjunto de cinco entrevistas com docentes e pesquisadoras de diferentes universidades brasileiras. As entrevistas foram conduzidas por estudantes da Habilitação em Português Segunda Língua/Língua Estrangeira (PL2/LE), do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), como parte do trabalho final da disciplina LA 910 – Introdução aos Estudos do Português como Segunda Língua e Língua Estrangeira, sob nossa responsabilidade no segundo semestre de 2020. Trabalho que sinaliza o engajamento teoricamente situado desse(a)s professore(a)s em formação com questões centrais da área, na confluência com discussões contemporâneas emergentes.
Matilde Scaramucci, da Unicamp, fala sobre o papel do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp na constituição da área de PL2/LE no Brasil, no desenvolvimento da pesquisa e de políticas de internacionalização, e na elaboração de instrumentos de políticas linguísticas, como o exame Celpe-Bras.
Margarete Schlatter, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), não perdendo de vista o atual cenário geopolítico e econômico, discute a formação de professores de PL2/LE, seu impacto na constituição de políticas de línguas nacionais e transnacionais, bem como o papel do Brasil no cenário de uma narrada “lusofonia”.
Ivani Rodrigues Silva, do Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação (CEPRE), vinculado à Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, e Wilma Favorito, do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), no Rio de Janeiro, discutem o ensino de português para surdos, considerando as instituições onde atuam (referência na área da surdez). Dentre outros tópicos, são abordados os desafios históricos e atuais do contexto, em um singular momento de ataque à democracia e aos direitos de grupos minoritarizados.
Teca Maher, da Unicamp, aborda sua trajetória, desde sua atuação como professora de português para estrangeiros no Centro de Ensino de Línguas (CEL) da instituição, até o interesse pela área de português no contexto indígena. Falando a partir da perspectiva intercultural crítica, Maher discute políticas públicas, de línguas e identitárias como mecanismos de inserção (e exclusão) social de populações minoritarizadas – inclusive no espaço universitário.
Rosane Amado, da Universidade de São Paulo (USP), focalizando questões caras ao ensino de português no âmbito das migrações de crise no Brasil, discute acolhimento e atuação do pesquisador na elaboração de políticas públicas e de línguas para migrantes e refugiados em tempos de fortalecimento do racismo e da xenofobia.